O
jogo de xadrez surgiu na Índia e foi difundido pela Pérsia, Arábia, outras
regiões asiáticas e então por toda a Europa. Sua “infância” na Índia parece ter
sido registrada nos documentos em sânscrito, em narrativas que apontam o
período entre 3.400 e 2.400 a.C. como o mais provável para seu “nascimento”.
Neste primeiro artigo da Coluna do Rei, vamos fazer um passeio pela estrada que
leva ao surgimento do jogo de tabuleiro mais popular do mundo.
O
xadrez moderno foi minuciosamente esculpido em pedra bruta. Suas formas e
regras são consideradas tão perfeitas pelos mais de 600 milhões de adeptos ao
redor do mundo que qualquer proposta de mudança tem sido imediatamente refutada
desde o século XV, quando as últimas modificações foram inseridas no jogo. Sua
origem sempre foi cercada de muita controvérsia e fábulas maravilhosas mas em
1860, o professor de línguas orientais de King’s
College
London,
Duncan Forbes, publicou seu livro intitulado The History
of
Chess.
Nesta
obra compilou e completou os estudos sobre os textos em sânscrito que relatam
sobre um antigo jogo de guerra hindu chamado chaturanga.
Forbes usou seu inigualável conhecimento sobre sânscrito, e também sobre o
jogo, para concluir que as narrativas hindus sobre o chaturanga
são
os mais antigos textos a mencionar princípios e formas que se assemelham ao
xadrez que é jogado nos dias de hoje. Sua origem exata, como o ano ou pessoa
que o inventou, está perdida nas profundezas da antiguidade remota mas
estima-se que tenha surgido entre os séculos XXXIII e XXIII a.C..
O
tabuleiro do chaturanga era praticado por quatro pessoas e as
peças eram diferentes em número, forma e movimentação. No idioma nativo hindu, chaturanga
significa
quatro
tipos de forças,
representadas pelas peças no tabuleiro e baseadas nas divisões militares da
Índia antiga: rei, elefante (representante da atual torre), cavalo, navio (mais
tarde biga e então bispo) e infantaria, formada por quatro peões. Quatro
agrupamentos destas peças com cores distintas (verde, amarelo, preto e
vermelho), um para cada jogador, eram posicionados nos quatro lados do
tabuleiro. Jogadores de lados opostos eram aliados contra os outros dois. O
fator sorte era dominante já que a peça a ser movida era decidida num lance de
dado.
A
habilidade mental do jogador no decorrer da partida era, portanto, forçadamente
coadjuvante. A natureza peculiar deste embrião do xadrez foi explicada em
detalhes no livro do professor Forbes mas uma das regras mais interessantes era
a possibilidade de captura dos reis.
Representação gráfica dos tabuleiros de chaturanga
e shatranj, respectivamente.
Fontes: history.chess.free.fr; www.iggamecenter.com
|
Quando
o shatranj foi
introduzido na Europa por comerciantes persas no século XI, o farzin foi
substituído pela rainha, numa visão mais romântica da peça. Mas somente no
final do século XV, através de uma grande mudança de curso nas regras do
xadrez, é que a rainha adquiriu habilidade de movimento livre ao longo de
colunas e diagonais e se tornou a peça mais forte do jogo. Esse xadrez moderno
trouxe ainda outras mudanças importantes, como a extensão do movimento do
bispo, que agora alcançaria toda a diagonal de sua cor num mesmo lance, e dos
peões, que passariam a avançar uma ou duas casas em seu primeiro lance. Outra
adição interessante foi o roque, que na tradução do Inglês castling
the
king
significa encastelar
o rei,
protegendo-o numa espécie de dança com a torre. É interessante notar que o
professor Forbes profetizou em seu livro, escrito no século XIX d.C., que com o
tempo a rainha absorveria também as características do cavalo. Esta mudança
nunca ocorreu.
Tabuleiro e peças do jogo de xadrez
moderno.
Fonte: http://worldwidechesssets.com
|
Até
lá!
4 comentários:
O jogo [de xadrez] com olhos vendados contém tudo: poder de concentração, nível de instrução, memória visual, para não mencionar também o talento estratégico, a paciência, a coragem, e muitas outras faculdades. Se fosse possível ver o que se passa na cabeça de um enxadrista, iríamos descobrir um irrequieto mundo de sensações, imagens, movimentos, paixões e um panorama sempre mutante de estados de consciência. As nossas mais precisas descrições, comparadas às deles, não passam de esquemas grosseiramente simplificados.
Alfred Binet (1857–1911), pedagogo, psicólogo e o inventor do Teste de QI, aplicou testes psicológicos para entender como funciona a mente dos grandes mestres de xadrez.
Samanta, que citação esplêndida! Descreve com perfeição a mente do enxadrista. Me remeteu ao magnífico documentário "Bobby Fischer Contra o Mundo". No filme, um dos pontos discutidos é a capacidade que Bobby tinha, assim como outros grandes gênios da história, de "pensar fora da caixa". Pessoas assim fazem grandes descobertas. O problema, como foi o caso de Bobby Fischer, é voltar a "pensar dentro da caixa". Ele acabou "afogado" em suas paranoias e nos deixou "órfãos" ao parar de jogar xadrez.
Obrigado pela sua participação e seja sempre bem-vinda à Coluna do Rei.
Muito bom o artigo, informativo e de boa qualidade! Parabéns!
Obrigado, Mariana! Seja bem-vinda sempre.
Postar um comentário