sexta-feira, 27 de setembro de 2013

GARRY - Curta-Metragem

Como bom apreciador de filmagem, edição e... xadrez, claro, compartilho esse vídeo feito por brasileiros e com participação mais que especial do Garry Kasparov. Aconselho degustar principalmente as palavras do Garry sobre estratégia e a influência do xadrez em nossas vidas. O planejamento, a estratégia em xadrez, são temas que, especialmente neste último ano em que retornei à prática e estudos, tem angariado muito da minha atenção. Gosto muito da frase "Life is a kind of chess", de autoria de Benjamin Franklin por cause do interesse no assunto. Não é um vídeo para qualquer um mas garanto que o conteúdo é de interesse. Cheers!

terça-feira, 30 de julho de 2013

domingo, 28 de julho de 2013

I COPA SEST/SENAT DE XADREZ RELÂMPAGO

Campos esteve órfã de torneios de xadrez por 10 anos e o jejum finalmente terminou na manhã deste sábado, 27/07/2013, quando a Academia de Xadrez de Campos, AXC, conseguiu juntar 23 atletas na sede do Sest/Senat. A "I Copa Sest/Senat de Xadrez Relâmpago", com 5 minutos de reflexão, reuniu velhos amigos, novos jogadores e promessas do xadrez goitacá. A Coluna do Rei esteve presente.

Os organizadores Victor Paiva, também árbitro do torneio, e Thiago Almeida fizeram ótimo trabalho e as belas mesas de xadrez em madeira maciça puxaram o nível da competição. Foi bonito ver o retorno de Luiz Osvaldo Cifuentes (foto abaixo), jogador da velha guarda campista e terceiro colocado no torneio, bem como jovens corajosos, ainda galgando nas "estratégicas" do jogo dos reis; eles impuseram seu xadrez com a classe digna de GMs. Foi a oportunidade de assimilar muitas lições ao passo que algumas partidas foram definidas pela execução de lances irregulares. 

Quedas de tempo são variáveis importantes nessa modalidade de xadrez e, apesar de não permitir a excelência de uma partida mais pensada, certamente nos oferece lances fenomenais de puro instinto, memória posicional e espontaneidade que trazem beleza única à prática do esporte/arte/ciência. São temperos para emoções inigualáveis. Foi o caso da partida entre Walter Wagner e Dario Marinho, pela segunda rodada da competição. A partida chegou a uma posição de empate singular mas Walter enfrentava aperto de tempo. Parecia que iria perder, quando seu tempo terminou e Dario não notou, tamanha era a atenção ao ritmo de seus lances. Quando finalmente reportou, o árbitro Victor Paiva, que a essa altura já observava atentamente os instantes finais da partida, informou que a mesma estava empatada porque Dario não tinha peças suficientes para mate. De fato uma anedota curiosa que só um torneio relâmpago teria oferecido de tão bom grado.
Quando caiu o tempo de Walter, segundo colocado no torneio (foto ao lado), Dario ainda tinha um punhado de peões em seu exército e, se naquele instante tivesse reportado a queda do tempo teria sido sagrado vencedor. Mas, como podemos ver no vídeo abaixo, transcorreram-se vários lances após a queda de tempo e Dario notou o tempo justamente após perder seu último peão. Ironias que só o xadrez poderia oferecer. Parabéns devem ser direcionados aos observadores que, em respeito às regras e bom andamento das partidas, não fizeram qualquer tipo de interlocução aos competidores. Aliás, essa foi a máxima durante todo o torneio e foi merecidamente ressaltada pelo presidente da AXC durante a premiação.


Outra situação inusitada marcou a disputa entre Fábio Fernandes e Nathália Vieira. Professor e aluna se enfrentaram e a jovem "padawan" venceu seu mentor na queda de tempo. Imagino que, bom professor como Fábio é, sua decepção pela derrota foi totalmente ofuscada pela satisfação de sua pupila com a vitória. Nathália ficou em 11o. lugar e ainda foi premiada melhor colocada na categoria feminina (foto ao lado).
Cyro Corte Real confirmou o favoritismo e saiu vencedor invicto. Abaixo podemos conferir, na íntegra, a partida entre Wéder Pacheco e Cyro Corte Real pela última rodada e que definiu as primeiras colocações do evento. Cyro ofereceu empate, aceito por Weder. A confraternização foi a máxima do retorno de Campos às competições de xadrez. Nos intervalos, amigos comentavam seus lances e contavam anedotas pessoais que fugiram às lentes das câmeras. O clima foi muito agradável e a AXC "inaugurou" com pé direito na organização. Parabéns a todos!



Mais fotos do torneio podem ser conferidas em:

quarta-feira, 24 de julho de 2013

PRIMEIRO TORNEIO CAMPISTA EM ANOS

JOGOS DE INVERNO SEST SENAT – 2013

1ª Copa SEST SENAT de XADREZ RELÂMPAGO 
Parceria SEST SENAT e ACADEMIA DE XADREZ DE CAMPOS
Arbitragem: AA Victor Paiva e equipe.

Objetivo: Apontar o campeão do torneio e desenvolver a prática de xadrez no município.
Data: 27 de julho de 2013. 
Participação: Aberto a todos enxadristas.
Local: SEST – SENAT - Avenida Doutor Nilo Peçanha, n° 614/822, Parque Santo Amaro, Campos do Goitacazes, RJ (Ao lado da rodoviária “Shopping Estrada”).
Sistema de jogo: Suíço em seis rodadas. 
Tempo de reflexão: 5 minutos KO para cada jogador.
Serão válidas as regras oficiais da Fide de Xadrez Relâmpago.

Premiação:

Campeão – Troféu;
Vice-Campeão – Troféu;
Terceiro colocado – Troféu;
Medalhas para os demais participantes.

Programação
8:00 Congresso Técnico
8:30 1ª rodada
9:00 2ª rodada
9:30 3ª rodada
10:00 4ª rodada
10:30 5ª rodada
11:00 6ª rodada
11:30 Encerramento

Requisitos para poder participar do campeonato:
Pagar a taxa de inscrição do torneio, no valor de R$15,00;
Estar presente no salão de jogos para o Congresso Técnico.

As inscrições serão efetuadas no local do evento, na secretaria do SEST, mediante preenchimento da ficha de inscrição e pagamento da taxa, no período de 15/07/2013 a 26/07/2013. No ato os jogadores receberão o regulamento da competição.

Material: Os jogadores devem comparecer com peças e relógios de xadrez em perfeito estado de funcionamento.

Obs. Os participantes e o público autorizam e cedem o direito de uso de seu nome, voz e imagem para a utilização em toda a mídia impressa e eletrônica para a divulgação sem nenhum ônus e por prazo indeterminado.

Maiores informações:
Victor Paiva - Presidente AXC - (vpaiva@hotmail.com.br) - Tel. 22 9923-0203.
Heloísa Landim – Promotora de Esportes e Lazer – SEST SENAT (heloisalandim@sestsenat.org.br) – Tel. 22-2726-8950

segunda-feira, 8 de julho de 2013

RIO DE JANEIRO CLASSE B: RESULTADO FINAL

Terminou hoje o Torneio Estadual Carioca Classe B. Sob a direção do presidente Alberto Mascarenhas e arbitragem de Marcelo Einhorn, Victor Paiva e Fernando Ventura, o torneio contou com 93 inscritos oriundos de 19 clubes. O ELO rating médio foi 1629 e ao final das seis rodadas foram registradas 106 vitórias com as peças brancas, 47 empates e 98 vitórias com as pretas, o que talvez configure um equilíbrio significativo entre vitórias utilizando-se ambas as cores.
Os cinco primeiros colocados são ordenados abaixo. Para maiores detalhes sobre os resultados clique aqui.

Renato Werner Rodrigues Nunes, Rio de Janeiro, 5,5
Marcus Vinicius Nora De Souza, Rio de janeiro, 5,0
Iago Henrique Da Silva Souza, Rio de janeiro, 5,0
Marcio De Lucca Cardoso, Três Rios, 5,0
Eduardo Henrique Jose Da Silva, Campos dos Goytacazes, 5,0

A COLUNA DO REI parabeniza os mais bem colocados do torneio, em especial o nosso colega da Academia de Xadrez de Campos, AXC, Eduardo Henrique José da Silva pela extraordinária quinta colocação, com cinco vitórias e uma derrota (5,0). O diretor financeiro da AXC, Thiago Almeida, exaltou o nível dos inscritos e mostrou-se muito satisfeito com a estréia do clube em competições. Como mencionado no post anterior, o município de Campos dos Goytacazes possui novamente um clube de xadrez após dez anos órfão de um espaço físico para a prática do esporte/ciência. Além da quinta colocação, o município foi muito bem representado por Wéder Pacheco da Silva (4,0) e o próprio Thiago Almeida Mendonça (3,5), que conquistaram a 13a. e 42a. colocações respectivamente.
O blog continuará a acompanhar a evolução do mais novo clube de xadrez do estado e vê excelentes perspectivas de fortalecimento do xadrez goitacá a partir de então.

Saudações enxadrísticas!

Os representantes goitacás nos tabuleiros do Campeonato Estadual Classe B do Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Thiago Almeida, Eduardo Henrique e Wéder Pacheco.

domingo, 7 de julho de 2013

AXC NO ESTADUAL CARIOCA CLASSE B

A diversidade de sites e programas para se jogar xadrez certamente proporciona aos jogadores dos diferentes níveis uma prática sem precedentes dos resultados de seus treinamentos. Mas nada se compara à dinâmica da prática e comentários proporcionados pelas partidas no tabuleiro físico. Nesse sentido, os clubes oferecem adendos incomparáveis à formação do enxadrista.
A história do xadrez em Campos dos Goytacazes, município do interior do estado do Rio de Janeiro, já foi mencionada aqui no blog no post UMA VISITA COM CARA DE TORNEIO, mas há 10 anos o município não possui um clube de xadrez. Entretanto, o melhor do xadrez campista parece despontar no horizonte a partir de junho de 2013, quando Victor Paiva e Thiago Almeida tomaram as rédias do jogo dos reis na planície goitacá com a fundação da Academia de Xadrez de Campos. Em breve faremos um especial com os atuais presidente e diretor financeiro deste que, mais que um clube para se jogar, almeja autossustentabilidade para o xadrez municipal.
Quatro representantes da recém-constituída academia estão HOJE "debutando" no Estadual Classe B realizado na cidade do Rio de Janeiro. O presidente Victor Paiva participa como árbitro enquanto Weder Pacheco da Silva, Eduardo Henrique José da Silva e Thiago Almeida Mendonça já se encontram na quinta rodada de partidas. A equipe começou com o pé direito já que Weder da Silva encontra-se entre os três primeiros colocados do torneio com três vitórias e um empate. Eduardo da Silva em décimo com apenas meio ponto de diferença dos primeiros colocados também é destaque campista e Thiago Almeida com 1,5 ponto teve um contratempo na chegada ao Rio de Janeiro que não o permitiu alcançar a primeira rodada.
Um início promissor para a AXC e para o colega Weder da Silva que, de acordo com sua performance até o momento, desponta para se tornar classe A e representar nosso município no Estadual respectivo do próximo dia 11 de agosto deste ano.
A Coluna do Rei deixa aqui os parabéns aos colegas campistas e deseja uma caminhada de sucesso à AXC!

Saudações enxadrísticas!

Thiago Almeida e sua criatividade e bom humor num contratempo técnico durante a primeira jornada oficial da Academia de Xadrez de Campos, AXC, em torneios cariocas.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

EVERALDO MATSUURA CAMPEÃO!

Everaldo Matsuura é o campeão do ABERTO DO BRASIL, COPA CIDADE DE VITÓRIA DE XADREZ, organizado pela Federação Espírito Santense de Xadrez. Uma vitória merecida para Everaldo que venceu cinco e empatou duas das sete partidas disputadas, totalizando 6,0 pontos. Os empates aconteceram contra os MIs Jorge Bittencourt e Luis Ernesto Rodi nas duas últimas rodadas do torneio. Em segundo e terceiro lugares e empatados com 5,5 pontos ficaram Mateus Nakajo Mendonca e Vinicius V. De Almeida Rego. Em breve um especial sobre o torneio com imagens exclusivas da Coluna do Rei. Abaixo seguem fotos da premiação.
Premiação do campeão do torneio, o GM Everaldo Matsuura.
Fonte: www.fesx.com.br

O segundo colocado no torneio, Mateus Nakajo Mendonça.
Fonte: www.fesx.com.br

Terceiro colocado, Vinicius Rego.
Fonte: www.fesx.com.br

sexta-feira, 31 de maio de 2013

ABERTO DE XADREZ: Fim da quarta rodada e Matsuura lidera!


A disputa entre o ex-campeão brasileiro, o GM Everaldo Matsuura e o MI Wellington Carlos Rocha terminou agora a pouco com vitória de Everaldo jogando de brancas. Com isso, o ex-campeão lidera o torneio com 4,0 pontos, seguido agora de dois novos segundos colocados: os MIs Yago de Moura Santiago, que também jogou brilhantemente para vencer o FM Renato R. Quintiliano Pinto, e Luis Ernesto Rodi, que venceu Vinicios V. de Almeida Rego; ambos agora possuem 3,5 pontos. Abaixo você confere com exclusividade a foto da posição final da posição final da partida Matsuura x Rocha.


Amanhã não estarei mais in loco para cobrir o evento mas posso dizer que foi uma experiência incrível estar com tamanhos mestres do tabuleiro e presenciar xadrez do mais alto nível. Os resultados continuarão a ser comentados aqui até o final do torneio e em breve farei uma compilação dos melhores momentos registrados por mim em vídeo!


Abraço a todos!


ABERTO DE XADREZ: Matéria da Rede Globo feita agora a pouco


Como eu mencionei anteriormente, a filiada Rede Globo no ES, TV Gazeta, fez agora a pouco uma reportagem sobre o Aberto de Xadrez que está acontecendo em Vitória, ES. O blog Coluna do Rei disponibiliza em primeira mão o link para a reportagem. Veja abaixo.
As partidas e a luta pela liderança ainda acontecem nos tabuleiros do Hotel Quality. O blog vai registrar o final da partida válida pela liderança e você acompanhará as imagens num especial sobre o evento em breve.
Abraço!


ABERTO DE XADREZ: Quarta rodada e disputa da liderança em andamento

A liderança do campeonato está em jogo enquanto Everaldo Matsuura, ex-campeão brasileiro, enfrenta seu companheiro de liderança (3,0 pontos ambos) pelo Aberto do Brasil de Xadrez, Copa Cidade de Vitória, que está acontecendo no Hotel Quality em Vitória, ES. Edu Frazão está no local e em breve mais fotos do evento! Abaixo uma foto da situação atual do jogo e em breve uma matéria especial sobre o evento!
Abraço!

ABERTO DE XADREZ: Terceira rodada finalizada

Terminou agora a terceira rodada da Copa Cidade de Vitória de Xadrez. O líder do torneio e ex-campeão brasileiro (1991), o GM Everaldo Matsuura lidera com 3 pontos ao lado do MI Wellington Carlos Rocha. A vitória do ex-campeão brasileiro na terceira rodada ocorreu num emocionante final de peões a promover, reis e torres, e Everaldo (pretas) saiu vitorioso na corrida pela promoção com desistência do seu excelente oponente Mateus Nakajo Mendonça. O final da partida foi registrado em vídeo e em breve postarei aqui no blog, num especial sobre o torneio.
A liderança do torneio será decidida agora na quarta rodada, que começa em meia hora aqui no Quality Hotel em Vitória, ES, Brasil, já que Everaldo e Wellington terão confronto direto, com Everaldo jogando de brancas. A afiliada da Rede Globo, TV Gazeta, fez agora a pouco uma cobertura que deverá ser transmitida no jornal das 19h. Quem puder pode conferir e verão inclusive o autor do blog registrando o evento. Bom deixo-os com uma foto direto do forno da recém-finalizada terceira rodada e vou partir para o salão de eventos para acompanhar a emocionante decisão da liderança. Em breve mais notícias!

Saudações enxadrísticas!


DO FORNO: Aberto do Brasil, Copa Cidade de Vitória, Rodada 1

A equipe do blog está acompanhando ao vivo as partidas do Aberto do Brasil realizado em Vitória, ES. Do forno trago algumas imagens das disputas e do evento, com destaque para a participação do GM brasileiro Everaldo Matsuura e dos MIs Jorge Bittencourt, Yago de Moura Santiago, Wellington Carlos Rocha, Luis Ernesto Rodi, Renato R. Quintiliano e Eduardo Arruda da Gama Cunha.
Um evento de muita classe e bem organizado pela Federação Espirito Santense de Xadrez (FESX). No evento tive o prazer de cumprimentar o GM Matsuura, uma simpatia em pessoa e de acompanhar excelentes partidas e finais de jogo emocionantes. Gostaria de destacar uma em especial da primeira rodada entre Namyr Carlos Souza Filho x Newton Celio Gonçalves Lima Jr., a qual acompanhei na íntegra e cuja filmagem dos dos lances finais postarei em breve aqui no blog. No intervalo entre as rodadas tive o prazer de encontrar o excelente jogador de brancas e ele me confidenciou que sofre de três hérnias de disco que o estavam impedindo de tirar seu melhor para pressionar no final. Mas saiu-se vitorioso ainda assim. Os resultados e lances das partidas da primeira e segunda rodadas disputadas ontem 30/05/2013 podem ser acompanhados no link abaixo. Em breve mais informações sobre o torneio. Saudações enxadrísticas!


















quarta-feira, 22 de maio de 2013

UMA VISITA COM CARA DE TORNEIO

Torneio "Flashback" de Xadrez de Campos dos Goytacazes, RJ.
Da esquerda para a direita: Manoel Dario Marinho, Leandro Nicolau,
Osvaldinho Miranda, Dario Marinho, Alexandre dos Reis e Cyro Corte Real.
O xadrez em Campos dos Goytacazes, RJ sempre foi de grande prestígio. Nos tempos áureos de movimento enxadrístico, a cidade gerou grandes jogadores que a representaram com louvor em diversos torneios de importância regional e até nacional. Na época, mais especificamente a década de 1980, a equipe liderada por Pedro Reis era magnífica e venceu muitos torneios de peso. O time era composto ainda por Osvaldo Miranda (Osvaldinho), Pedro Ferreira (Ferreira), Alexandre dos Reis, Luiz Osvaldo Cifuentes e Jonas Haddad (nosso saudoso amigo Dr. Jonas). Entusiastas e amigos reuniam-se regularmente para praticar o jogo dos reis e cultivar boas amizades. Meu pai, Manoel Dario Marinho, era um assíduo frequentador das reuniões e teve o prazer de jogar contra muitos destes campeões. As amizades perduram até hoje, mais de 30 anos depois, ainda que alguns já não "roquem" entre nós, como é o caso de Dr. Jonas e do Sr. Pedro Reis, um dos maiores jogadores da história goitacá.

Cyro Corte Real e Dario Marinho em partida amistosa  antes do torneio.
No último sábado, 18 de maio de 2013, uma visita de velhos amigos acabou se tornando um marco para a nova história do xadrez campista. Dois grandes jogadores da velha guarda, Osvaldo Miranda e Alexandre dos Reis, se reuniram na casa do meu pai para relembrar os velhos tempos regados a um gostoso café vespertino. O xadrez é cultivado em nossa família desde a mais tenra idade, mas nunca passou de um grande hobby. Quero dizer, sempre jogamos por lazer, nunca de forma competitiva em campeonatos. Apreciamos o combate entre amigos e ultimamente temos tido o prazer de receber em nossa casa um novo amigo de partidas, Leandro Nicolau. Entusiasta do jogo, tem demonstrado empolgação tamanha que meu pai resolveu apresentá-lo a dois dos maiores jogadores que o município já produziu. Foi então que surgiu a ideia para o encontro. Mas os dois grandes campeões goitacás não vieram sozinhos. Junto a eles estava uma grande promessa do nosso xadrez: Cyro Corte Real. O jovem de 24 anos teve seu primeiro contato com xadrez aos três através do pai e aos seis começou a jogar. Engajou-se mais arduamente no jogo aos 11 e aos 13 conquistou posições de destaque em campeonatos regionais e estaduais, competindo, inclusive, com mestres internacionais. Um fato curioso foi que o pai de Cyro teve o prazer de jogar contra Henrique da Costa Mecking, nosso Mequinho, numa demonstração de simultâneas proferida pelo Grande Mestre Internacional brasileiro na Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ. Como de costume, Mequinho saiu vitorioso. Mas penso que não há honra maior para um jogador mediano do que jogar com um campeão de invejável estirpe.

Manoel Dario Marinho e Osvaldinho Miranda, dois velhos amigos do xadrez
de Campos dos Goytacazes, RJ.
No dia marcado, por volta das 3:00 pm, já rolavam algumas partidas de cinco minutos. Eu só consegui chegar por volta das 4:00 pm e quando toquei a campainha meu pai me recebeu no portão dizendo: - Venha ver, Alexandre trouxe um garoto muito bom. Já na varanda de acesso à sala de estar, avistei o velho tabuleiro de madeira do meu pai sobre a mesa de centro. Ao redor e em pé estavam Alexandre dos Reis, Osvaldo Miranda, Leandro Nicolau e, "digladiando" sobre o tabuleiro, meu irmão e também grande entusiasta do jogo Dario Marinho, e Cyro Corte Real, o nome do dia. Assim que parei na porta e vi aquela cena lembrei dos tempos de escola quando, por volta dos 11 anos, costumava levar os amigos à minha casa para jogar. O mais assíduo era Marco Antônio Gondim, que por sinal jogava muito. As partidas com Marco, nos idos de 1990 eram, além de tudo, regadas a boas conversas sobre quadrinhos e filmes. Bons tempos aqueles! Muitas vezes, jogando na casa de Marco, seu irmão caçula Felipe chegava e complementava o ambiente pop/cult com seu bom humor e bom gosto sobre animes e música britânica.

Osvaldinho Miranda (esquerda) e Leandro Nicolau testando o relógio digital
improvisado no celular.
Enfim, de volta ao presente, o jovem enxadrista Cyro jogava muito bem as amistosas com controle de cinco minutos quando Alexandre levantou a hipótese de um minitorneio com controle de tempo de 10 minutos. A animação foi geral. Era o momento e o lugar ideais e com as pessoas certas. Uma pequena mescla da vanguarda e velha guarda do xadrez de Campos estava para acontecer. E foi legal demais! Um campeonato tão improvisado que tivemos que, ainda, "baixar" o software Swiss Perfect para o emparceiramento. Eu havia levado minhas peças e tabuleiro de napa e, junto com outros dois sets de madeira do meu pai tínhamos material e pessoal suficientes para uma boa apresentação. Participaram seis jogadores: Manoel Dario Marinho (58), anfitrião e um dos mais antigos jogadores de Campos; Osvaldo Miranda (45); Alexandre dos Reis (41); Leandro Nicolau (33); Dario Marinho (31) e Cyro Corte Real (24). Eu preferi ficar de fora da competição em prol da atualização dos eventos ao blog. Consegui registrar as principais partidas de cada rodada, as quais eu postarei na íntegra ao longo deste artigo.

Jogadores em amistosos antes do torneio.
Para um encontro informal com poucos participantes, penso que tínhamos amostra suficiente de jogadores da velha guarda para o batizarmos de Torneio "Flashback" de Xadrez de Campos.  As rodadas foram disputadas com controle de tempo através de celulares com softwares que emulam relógios digitais. Foi bonito observar que, apesar de toda a improvisação, ninguém se importou de se acomodar, por exemplo, numa cadeira de balanço ou até apoiar o tabuleiro sobre a baixa mesa de centro da sala de estar. A reunião teve de tudo, com direito a coffee break e bolo de chocolate sobre o fogão da cozinha; todos comentando os lances e anedotas da rodada anterior.

A primeira rodada teve como destaque a partida entre os dois grandes campeões da cidade, Alexandre dos Reis e Osvaldo Miranda, registrada por mim na íntegra e reproduzida no link abaixo. A disputa terminou em empate por acordo mútuo após uma série de lances bastante seguros de ambas as partes.


Osvaldinho brinca ergue a taça de campeão, brincando sobre
o resultado antecipado. A taça em questão foi um troféu ganho
em competição por um dos cães Pastores Alemães do seu
amigo Manoel Dario.
Na segunda rodada tivemos partidas bastante disputadas, com bons confrontos entre Manoel Dario Marinho e Alexandre dos Reis, e entre Dario Marinho e Cyro Corte Real, com vitória das pretas em ambas as partidas. Mas a descontração do momento ficou por conta da terceira partida da rodada entre Osvaldinho e Leandro Nicolau. Num final de nocaute certo para Osvaldinho pela contundente vantagem de Dama, Torre e Bispo contra Rei, e lógico pela bagagem do veterano e campeão campista, o nosso entusiasmado amigo Leandro decidiu ir até o final para tentar ganhar no tempo. Foi então que Manoel Dario, de forma muito espontânea, comentou: "Leandro quer ganhar no tempo." Osvaldinho ainda tinha cerca de 1 minuto e meio e Leandro levou o xeque-mate poucos lances depois. Mas, ao fim da partida e em sua forma entusiasmada de sempre, leandro relatou: "Dário salvou aquele de camisa branca e vermelha", referindo-se ao seu algoz Osvaldinho. Foi um momento de pura descontração para todos, em que o amigo Leandro, na sua ingenuidade característica, proporcionou uma anedota que vai entrar para a história do evento. Osvaldinho olhou para ele e não conteve o sorriso. Todos estavam num clima de pura confraternização e a situação foi motivo de brincadeiras até o fim da noite. Abaixo disponibilizamos mais uma partida completa, entre Dario Marinho e Cyro, e ainda o vídeo que registra o momento de explicações do amigo Leandro sobre sua derrota mencionada acima.



A terceira rodada, eu diria, foi a mais interessante de todas. Tivemos um bonito xeque-mate de Cyro em Osvaldinho e uma vitória contundente de Dario Marinho sobre o nosso grande campeão Alexandre dos Reis. Leandro ainda conseguiu uma vitória incomum sobre o experiente Manoel Dario em apenas 17 lances. Abaixo segue o link com os lances completos da partida eletrizante entre Cyro Corte Real e Osvaldinho, que teve sérios problemas de tempo nos lances finais. Após a partida, de forma elegante e verdadeira, Osvaldinho enalteceu o jogo do rapaz: "O menino é bom".


Enquanto isso, o silêncio na mesa ao lado não representava com muito afinco a grande batalha desenhada no tabuleiro. Dario Marinho e Alexandre dos Reis protagonizavam um excitante final de jogo; cada um com aproximadamente 20 segundos restantes. Dario conseguiu manter sua vantagem de Rainha e Torre contra Torre até pressionar e conseguir trocar a Torre de Alexandre e coroar nova Rainha. Alexandre perdeu no tempo mas a partida já estava decidida para Dario pela vantagem no tabuleiro. A vitória foi muito comemorada por Dario ante o grande gentleman e campeão Alexandre. Abaixo segue o link para o vídeo dos instantes finais descritos acima, com destaque para o momento em que me aproximo com a câmera para registrar a posição do jogo e já ia saindo para registrar o final da outra partida da rodada quando ouvimos um nítido sussurro de Dario "Filma aqui, Edu". O grupo e o próprio Alexandre não se contiveram com aquele comentário de Dario, nitidamente ávido para registrar o momento em que poderia ganhar do jogador de maior rating oficial do município. Foi realmente engraçado e eletrizante ao mesmo tempo. Ainda no vídeo a seguir, podemos acompanhar os momentos finais da excelente partida entre Cyro e Osvaldinho.


Como parte do improviso, o programa Swiss Perfect apresentou erro ao gerar as partidas finais, o que nos obrigou a formar as disputas manualmente. Enquanto Cyro e eu tentávamos resolver o problema com o computador, os jogadores aproveitavam para jogar partidas amistosas relâmpago. Resolvido quem jogaria com quem nas partidas finais, foi reiniciado o torneio, com destaque para o empate entre Osvaldinho e Manoel Dario. Cyro e Alexandre venceram suas partidas seguintes jogando de brancas contra Leandro, assim como Manoel Dario e Osvaldinho o fizeram jogando de brancas e pretas respectivamente contra Dario Marinho. O destaque da última rodada ficou para o eletrizante final de jogo entre Cyro e Alexandre. Ainda com material e posição para pressionar seu adversário, Cyro observou que tinha cerca de 1,5 minutos contra 3 de Alexandre e ofereceu empate (prontamente aceito) na ameaça de um xeque perpétuo. Na foto abaixo vemos a posição final do excelente jogo. Um final digno deste encontro entre velhos e novos amigos e que certamente deu o tom para as próximas disputas a serem acertadas na residência do satisfeito Manoel Dario.

Cyro Corte Real na última rodada do torneio enfrentando Alexandre dos Reis.
Destaque para a posição no tabuleiro, onde Cyro Corte Real prepara o primeiro
movimento do xeque perpétuo ante o grande enxadrista Alexandre dos Reis.

Abaixo você pode conferir a classificação final deste divertido torneio entre amigos e fazer seus comentários sobre as partidas e vídeos aqui disponibilizados. 
Até a próxima!


sexta-feira, 26 de abril de 2013

BOBBY FISCHER: O FENÔMENO


por Edu Frazão

Bobby Fischer foi certamente o maior gênio que o mundo do xadrez já conheceu. Mas proporcional à admiração que conquistou foi a decepção que provocou quando prematuramente parou de jogar aos 29 anos, logo após conquistar o título mundial de 1972. A maestria com que dominava as combinações no tabuleiro foi nublada por uma enxurrada de pensamentos paranoicos que o impediram de fazer o que se dedicara a vida inteira: magia com o tabuleiro de xadrez.

Robert James Fischer nasceu em 9 de março de 1943 na cidade de Chicago, Illinois, EUA. Filho de pais separados (mãe suíça e pai alemão), aos seis anos mudou-se para Nova York, onde aprendeu os primeiros movimentos do jogo com sua irmã mais velha Joan. Teve evolução enxadrística discreta até 1955, mas conseguiu melhorar seu jogo e ascender em categoria quando se filiou ao Clube de Xadrez de Manhattan. Em 1956, aos 13 anos, teve sua primeira grande participação no Campeonato Norte-Americano de Xadrez para Amadores, conseguindo a 11ª colocação entre 88 inscritos. Desde então seu crescimento foi notável ao passo que não parava de competir e sustentava uma tremenda paixão e vontade de aprender. 


Bobby Fischer aos 14 anos
Dos 13 aos 14 anos conquistou os três maiores torneios dos EUA e tornou-se grandemente temido apesar da pouca idade. O título nacional garantiu vaga no Interzonal de 1958, ano de sua maturação enxadrística. Ele perdeu apenas duas partidas: uma contra o húngaro Pal Benko (30) e outra contra o islandês Friðrik Ólafsson (23), terminando apenas 1,5 pontos atrás de outro grande jogador, o soviético Mikhail Tal (22). O quinto lugar obtido o levou ao Torneio de Candidatos de 1958 e ao título de Grande Mestre Internacional com apenas 15 anos. Sua fama se espalhara como um vírus por toda a Europa e Américas; todos queriam se infectar. Choviam convites para participar de torneios no mundo inteiro e a regularidade de suas partidas o levaram à primeira vitória sobre um Grande Mestre soviético em 1959: Paul Keres (43). No entanto, a ascensão do menino de 16 anos no Torneio de Candidatos foi aniquilada pelo gênio de Mikhail Tal, que o venceu por 4-0 no embate individual.

Bobby Fischer enfrentando Viktor Korchnoi pelo
Interzonal de 1962.
Nos anos que se seguiram, o jovem Grande Mestre enfrentou e derrotou os melhores do mundo, com destaque para a conquista do Interzonal de 1962 com dois pontos de vantagem sobre os soviéticos Efim Geller (37), Tigran Petrosian (33) e Viktor Korchnoi (31). Seu quarto lugar no Torneio de Candidatos de Curaçao trouxe uma polêmica à tona. Bobby acusou os soviéticos de jogarem em equipe (Petrosian, Geller, Korchnoi e Tal) para favorecerem uns aos outros. De fato, um grande número de empates ocorreu entre eles e no final viu-se uma surpreendente série de três derrotas de Korchnoi  para seus colegas, deflagrando a vitória de Tigran Petrosian. Com a denúncia, uma deliberação da Organização Mundial de Xadrez (FIDE) modificou as regras da disputa e o torneio passou a ser jogado em matches individuais eliminatórios.

Os anos seguintes continuaram a mostrar a evolução de duas constantes na carreira de Bobby: sede de vitória e polêmica. Entre os anos de 1963 e 1969 registraram-se algumas situações interessantes. A primeira delas ocorreu em 1964, quando decidiu fincar um hiato em sua carreira, não disputando qualquer torneio naquele ano. Em 1967 abandonou, por motivos religiosos, o Torneio Interzonal após 10 rodadas bem sucedidas. Ficou mais nove meses sem disputar qualquer partida de xadrez e quando retornou voltou a vencer. Mas em 1968 abandonou outro torneio, desta vez a Olimpíada da Suíça. O motivo foi a recusa de suas exigências pela organização do evento. Em 1969 não disputou qualquer torneio, incluindo o Campeonato Americano, o que o deixou de fora do ciclo pela disputa do mundial. Em 1970 Fischer venceu o famoso "Match do Século", onde o time dos soviéticos enfrentou uma equipe formada por jogadores de todo o mundo; participaram deste torneio 12 jogadores de primeira linha. Ele venceu e ficou nada menos do que 4,5 pontos na frente do segundo colocado, Mikhail Tal (34).

O jovem G.M. brasileiro, Mequinho.
Bobby iniciou nova escalada de vitórias incontestáveis. Venceu o importante torneio Roving-Zagreb, com 2 pontos de vantagem sobre Korchnoi (39) , Gligorić (47), Smyslov (49) e Hort (26), e 2,5 sobre Petrosian (41). Em seguida venceu o Torneio de Buenos Aires, em que empatou apenas quatro das 17 partidas, sendo uma delas contra o primeiro Grande Mestre brasileiro, Henrique da Costa Mecking (18), o Mequinho (foto ao lado). Abaixo reproduzimos esta partida contra o notável jogador brasileiro.


O título mundial nunca esteve tão ao alcance das habilidades de Bobby, mas havia um problema. Por ter desistido de disputar o Campeonato Americano de 1969, ele não conseguiu a vaga para o Interzonal de 1970. Sendo assim, a federação americana enviou uma petição à FIDE para incluir o nome de Bobby no torneio. A vaga dependeria de uma desistência de qualquer participante e Paul Benko aceitou uma proposta financeira da federação americana para ceder seu lugar. A FIDE concordou com a substituição e Bobby simplesmente desmontou seus adversários no torneio com uma vantagem histórica de 3,5 pontos em 15 vitórias, sete empates e uma derrota (para o dinamarquês Bent Larsen, de 35 anos). No Torneio dos Candidatos de 1971, Bobby protagonizou uma exibição cinematográfica. Nas quartas-de-final disputadas em Vancouver, Canadá, ele humilhou o soviético Mark Taimanov (45) por nada menos que 6-0. 

Fischer vs. Petrosian: Torneio dos Candidatos de 1971.
Os sons dos "golpes" de Fischer ecoaram forte na mídia, inclusive a não especializada, e a próxima humilhação só mudou de lugar. Nas semifinais que aconteceram em Denver, EUA, Bobby "destroçou" Bent Larsen com outro contundente 6-0. Numa atitude um tanto medíocre, Bent mais tarde desmereceu a vitória de Bobby ao afirmar que estava mal de saúde durante o matchA grande final aconteceu em Buenos Aires contra Tigran Petrosian (42). O placar não menos humilhante de 6,5-2,5 a favor de Fischer reafirmou a superioridade do americano e, pela primeira vez em muitos anos, a coroa do xadrez correria risco de deixar a União Soviética. 


O mundo aguardava ansiosamente o dia 2 de julho de 1972 para o confronto do século entre o desafiante americano Bobby Fischer (29) e o então campeão mundial, o soviético Boris Spassky (35), pelo título mundial de xadrez. Muitos países enviaram suas propostas financeiras para sediar o match, inclusive o Brasil. Por fim, após longas e polêmicas discussões, o torneio foi realizado em Reykjavik, na Islândia. Na posição de estrela máxima do espetáculo, e às vésperas da abertura oficial da disputa, Bobby exigiu que 30% do arrecadado com a transmissão do match fosse repassado ao futuro campeão. A organização não aceitou e à cerimônia de abertura Bobby nem sequer tinha embarcado para a Iugoslávia. O suspense aumentou quando faltavam apenas 10 horas para a primeira partida e o paradeiro do campeão americano era um mistério. Faltando cinco horas, em vista do não pronunciamento de Bobby, o presidente da FIDE e ex-campeão mundial Max Euwe (71) anunciou que adiaria em 48 horas o início do match. Mas a frustração tomou conta dos entusiastas do mundo inteiro e dos três mil pagantes que assistiriam ao vivo às partidas no Exhibition Hall do Palácio de Desportos de Reykjavik, quando até o dia 3 de julho não havia qualquer sinal de que Bobby jogaria. Neste mesmo dia, um homem que merece ser lembrado para sempre pelas consequências de seu ato, o banqueiro londrino James Slater, ofereceu a farta quantia de 125.000 dólares para Bobby Fischer finalmente jogar. Fischer aceitou e embarcou imediatamente para a Islândia. Curiosamente no dia da independência americana, Bobby Fischer chegou a Reykjavik. Entretanto, trâmites entre a federação soviética e a FIDE sobre as consequências do atraso de Bobby levaram a um novo adiamento do match. Finalmente, às 18:05h de 11 de julho de 1972, com atraso (quiçá estratégico) de 5 minutos por parte de Bobby, o match do século começou.

Bobby Fischer (direita) enfrentando Boris Spassky pelo Campeonato
Mundial de Xadrez em 1972. 
O confronto foi inacreditável, uma vez que Bobby perdeu dois pontos logo nas duas primeiras partidas: perdeu a primeira partida e não compareceu à segunda. Rumores apontavam para uma desistência de Bobby, mas ele voltou forte para a terceira partida. Com uma agressividade e imaginação impressionantes, Bobby Fischer ofereceu à eternidade uma de suas melhores partidas, de acordo com o comentarista do evento e Mestre Internacional espanhol Román Torán. Abaixo reproduzimos a partida, em que Bobby venceu jogando com peças pretas.



As novidades teóricas de Fischer desmontaram a preparação de oito meses de Spassky. A segunda vitória, e consequente retomada da igualdade no match (2,5-2,5), veio logo na quinta partida. Mas foi em sua sexta partida que Fischer presenteou a plateia, e todo o mundo, com uma sinfonia genial de combinações. A partida é verdadeiramente uma pérola, onde Fischer minuciosamente priva Spassky de seus movimentos até um inescapável estrangulamento para fazer 3,5-2,5 e virar o match. Bobby, que nunca havia jogado o Gambito da Dama com as brancas, o fez justamente num match pelo campeonato mundial e desconcertou o campeão soviético. Ao fim da partida, tamanho foi o esplendor da batalha, Spassky assumiu o lugar de espectador/admirador e levantou-se para aplaudir seu adversário. Uma atitude de um verdadeiro gentleman por parte do campeão do mundo e de quem VERDADEIRAMENTE aprecia o jogo. Abaixo podemos reproduzir essa incrível partida.




Bobby ainda venceria as partidas de números 8, 10, 13 e 21 para fazer impressionantes 12,5-8,5 e sagrar-se o indiscutível campeão mundial de xadrez. Tornou-se uma estrela tão brilhante que levou a uma disseminação do jogo sem precedentes pelos quatro cantos do planeta. Ele realmente imergiu nos confins dos livros de xadrez e decifrou as mais complexas combinações. Dominou a arte como ninguém. Sua capacidade mental era tão impressionante que folheava os livros de estratégia, como numa leitura dinâmica, e acompanhava as partidas anotadas como se as estivesse observando no tabuleiro em tempo real. Fazia ainda parte de seu treinamento a prática contínua de esportes; seu preferido era o boxe.

Anatoli Karpov (direita) recebendo o título de Campeão
Mundial de Xadrez de 1975.
Mas talvez o período mais marcante da vida de Bobby Fischer tenha sido aquele após a conquista do título mundial e sua desistência em defendê-lo em 1975 contra o então jovem campeão soviético de 24 anos Anatoli Karpov. Após uma série de novas exigências e desentendimentos com a FIDE, Fischer não compareceu ao match e Karpov ficou com o título mundial. Desde então, o mundo pôde tristemente presenciar a queda vertiginosa de seu ídolo, tomado por paranoia e extremismo religioso. David Shenk, autor do livro The Immortal Game: A History of Chess, participou do excelente documentário Bobby Fischer contra o mundo, onde declarou: "Tentamos antecipar o que nosso oponente pode fazer [...]. Um bom jogador de xadrez é paranoico no tabuleiro, mas essa paranoia na vida real não funciona muito bem." O maior potencial do xadrez, o primeiro ocidental em anos a assumir a hegemonia do xadrez havia se afundado em tantos pensamentos obsessivos e manias de perseguição que sua mente não tinha mais espaço para jogar xadrez. Descendente de judeus, tornou-se inveterado antissemita, isolou-se do mundo e não mais jogou. Nos anos seguintes à conquista do título mundial Bobby Fischer foi de jovem gênio a velha lenda.
Zita Rajcsanyi
Passaram-se 18 anos e o mundo já não tinha mais esperanças de ver seu ídolo fazer o que mais sabia fazer. Foi então que uma luz apareceu no fim do túnel. A luz tinha um nome: Zita Rajcsanyi, uma enxadrista húngara de 19 anos e fã do ex-campeão. Ela tirou o "urso" de sua hibernação com uma simples carta em 1990. A própria Zita fez os arranjos e o retorno de Bobby foi nada menos do que num rematch contra Boris Spassky em 1992. 


Boris Spassky (esquerda) e Bobby Fischer no rematch de 1992.
Bobby venceu novamente mas foi declarado criminoso ao violar um embargo das Nações Unidas e jogar na Iugoslávia durante a guerra civil. Sem pátria, foi preso no Japão em 2004 sob ameaça de extradição aos EUA. Conseguiu asilo na Islândia em 2005, mas passou seus últimos dias com os mesmos pensamentos obsessivos que o fizeram deixar o xadrez. Sua morte em 2008 foi sentida pelos milhões de amantes do xadrez em todo o mundo. Sua idade? 64. O número de casas do tabuleiro de xadrez.

Bobby Fischer aos 64 anos.
É bem provável que sua doença e genialidade funcionassem como gêmeos siameses; um não poderia viver sem o outro. O neurologista Kari Stefansson trouxe um argumento interessante ao assunto: "A maioria de nós pensa dentro de limites relativamente estreitos. Mas, ocasionalmente, um indivíduo consegue ‘sair da caixa'. Essas são as pessoas que fazem novas descobertas, são os criativos. Mas, [também] ocasionalmente, torna-se difícil retornar à caixa. [...] Não acho que Bobby poderia ter sido tão criativo, tão extraordinário, sem ser extraordinário em outros aspectos." Ele viveu para o xadrez durante 23 anos e deixou um legado imortal: suas maravilhosas partidas. Talvez o maior sentimento que hoje vigore nas mentes dos apreciadores desta arte/ciência, dos fãs angariados pelo fenômeno que foi o jogador Bobby Fischer, não é o da emoção das batalhas que protagonizou nos tabuleiros do mundo inteiro, mas o da frustração pelo muito que ele ainda poderia ter alcançado.